[notas sobre as fotos]: Os utensílios de cultura material vistos aqui são modos tecnológicos da diversidade do pensamento humano. Em algum momento um ‘animal racional’ pensou e desenvolveu tais artefatos [sendo que é possível também considerar uma ressignificação dos mesmos]. Essas fotos fazem parte de um pequeno acervo de possibilidades do bloodplay.
Algumas práticas culturais são tidas como inaceitáveis em determinadas sociedades por, aparentemente, se afastarem da normalidade, recebendo um pesado rótulo de manifestações patológicas. Mas não acredito nessa ‘patologia’, melhor dizendo, prefiro ter como modo pensar, sentir e agir, todas aquelas atitudes relacionadas com o tal do ‘relativismo cultural da antropologia’. Nesse sentido, me afasto das práticas etnocêntricas [embora reconheça nelas, também, um importante aspecto que estrutura momentaneamente as identidades culturais]. Bom, eu disse isso porque agora quero tentar explicar uma prática cultural pouco difundida em contexto nacional, muito embora algumas ‘cenas’ [...] há deixa pra lá [...] não tem relevância. O fato é que daqui a algum tempo novos termos como bloodsports ou bloodplay serão incorporados ao imaginário coletivo e, a priori, serão tratados como atos delinqüentes – com toda certeza –, para somente depois passarem por processos de legitimação social. Escrevo isso hoje no intuito de informar sobre práticas culturais pouco difundidas e evitar possíveis interpretações preconceituosas. Bloodsports ou bloodplay são termos usados para práticas corporais que envolvem sangue, podendo ter um cunho sexual, lúdico, estético ou outra coisa que ainda não foi pensada. Tais práticas consistem em fazer cortes ou perfurações no corpo [pela própria pessoa ou por outra], assumindo o sangue um papel central numa espécie de ‘ressemantização’ do fetiche, penso eu. Como outras coisas na vida, tais ações requerem uma série de cuidados, haja vista a possibilidade da transmissão de doenças mediante o contato com o sangue. Assim, atitudes como beber o sangue de outrem é – de fato – algo perigoso. Na literatura e em trabalhos de psiquiatria pode-se encontrar uma recorrência ao termo ‘vampirismo’ para algumas dessas atividades, muito embora seu significado extrapole os limites dessas classificações lingüísticas. Esse joguinho de sangue pode ser dialeticamente associado, ainda dentro de uma perspectiva psicológica, com os pares ‘bondade e disciplina’, ‘submissão e dominação’ e ‘sadismo e masoquismo’[BDSM], mas eu não penso dessa forma. Alguns adeptos das modificações corporais extremas também se utilizam, ludicamente, desse tipo de ‘brincadeirinha sangrenta’. Afinal de contas o sangue é – para mim – também, um elemento estético. Outras vozes, que não a minha, irão ecoar: “psicótico, desviante, repugnante” [...] não irão faltar termos para que uma maioria cultural se manifeste contra a diferença. É difícil aceitar que somos diferentes. Pelo menos o senso comum já chegou à conclusão de que “a beleza está nos olhos de quem vê”!!!