sábado, 12 de maio de 2007

AS APARÊNCIAS ENGANAM


Para algumas pessoas pode até parecer que a gravura ao lado não passa de uma simples panela de barro feita, provavelmente, por índios. Mas é isso mesmo! Este artefato de cerâmica foi feito por mulheres da etnia Waurá – tronco lingüístico Aruak – habitantes da região do Alto Xingu, Mato Grosso. Pois bem, o que pretendo dizer com isso?! Começo a história pela minha infância, quando, com meus pais, aprendi que saber ler é muito mais articular letras, palavras e frases. Com o tempo, fui levado a concluir que ‘as aparências enganam’. A cerâmica Waurá nos diz muito mais coisas do que podemos imaginar. Além do seu uso funcional (preparar alimentos) ela transmite muitas outras informações. Por exemplo – os mitos, que imaginamos ser aquelas histórias apreensíveis apenas por via oral ou escrita, podem estar impregnados numa simples panela de barro, sendo possível, apreender essa história também através da cerâmica. A peça de cerâmica apresenta aspectos cosmológicos que nos informam sobre o modo de vida desse povo. As panelas são zoomorfas, indicando animais presentes naquele mundo, entretanto, alguns animais não são representados nesse processo por serem considerados ‘não-bonitos’, o que, é evidente, extrapola a questão estética identificando uma cosmologia mítica Waurá. Além das formas, as peças também são decoradas com grafismos inteligíveis aquela sociedade e as técnicas utilizadas para obter a coloração são extraídas do seu próprio universo de referências. Então (...) o que mais essas panelas podem nos dizer? Poderia ainda nos fazer pensar da seguinte maneira; a confecção da cerâmica entre os Waurá é tarefa exclusiva das mulheres, assim sendo, elas são responsáveis por transmitir esse conhecimento às futuras gerações; outra forma de pensar nos leva a incluir tais artefatos no circuito das trocas matrimoniais, desse modo, as panelas também contam histórias sobre as relações de parentesco. Um último aspecto que gostaria de ressaltar diz respeito ao Moitará. Moitará são trocas simbólicas (não monetárias) realizadas entre os povos do Alto Xingu, podendo estas, ser dentro da mesma aldeia, ou entre aldeias vizinhas. Essas trocas, mediadas pelos homens, conferem prestígio e envolvem outros membros da sociedade no processo, quando são reciprocados determinados objetos, como colares, cintos, adornos de penas, armas, etc. Enfim, a mitologia Waurá pode ser contada de diversas formas, ela está presente nas panelas, nas pinturas corporais, nos formatos das casas, e em muitos outros aspectos da vida social, o que em última análise tem relação direta com um horizonte de práticas. Então lhes pergunto novamente, será que é só uma panela de barro mesmo?

5 comentários:

Anônimo disse...

quem dera a nossa produção fosse sempre tão cheia de simbologia e significado...

N.O.S. disse...

(sobre a nossa produção) mas é também, porque não? hehehe

Você é um antropólogo da porra! Sou seu fã!

Anônimo disse...

oie Bruno!!
adorei os textos e principalmente o do EMO! e o q falava d vc como produto p a usuaria!! mto comico!
bjusssss

Unknown disse...

E quem disse que é uma panela de barro?

Anônimo disse...

Panela não, mas já o "barro"...